A saúde desponta como um dos temas centrais da disputa para a cadeira do Executivo em Pouso Alegre. E não se trata de um acaso. O tema tem sido focado especialmente pelo grupo do deputado federal Rafael Simões (União), que tem no setor sua maior vitrine política.
Parte dos esforços do grupo, que pretende lançar o médico Alexandre Hueb para concorrer à Prefeitura, logo depois do partido ter retirado o nome do vereador Leandro Morais da disputa, se concentra em apontar falhas na gestão da Secretaria de Saúde, hoje liderada por Rosaly Esther. Falta de medicamentos e as filas para exames e consultas são algumas das mazelas apontadas pelo grupo. Mazelas estas que também existiam na gestão da então secretária Silvia Regina, aliada incontestável de Simões.
A ala ligada ao prefeito Cel. Dimas (Republicanos) parece esboçar uma reação. A estratégia é expor situações em que a saúde pública teria sido utilizada, segundo os governistas, para fins políticos sob a administração de Simões ou de pessoas ligadas a ele.
Alguns desses casos foram levados à tribuna da Câmara ao longo das últimas duas semanas. O vereador Dr. Edson (Republicanos) afirmou que obteve dados da Secretaria de Saúde apontando que durante a gestão de uma das fiéis aliadas de Simões, Sílvia Regina, à frente da pasta, ambulâncias e até mesmo vans repletas de pacientes de outras cidades estariam chegando com regularidade à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Pouso Alegre.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é universal e tem portas abertas, logo em princípio, não é irregular atender pacientes de outras cidades em uma UPA, especialmente em um caso de emergência, mas fazer o atendimento de forma programática, com os pacientes partindo de outras cidades poderia gerar um desequilíbrio no sistema de saúde público local e apontaria, segundo o parlamentar, para o uso político de um equipamento público de saúde, considerando que boa parte desses atendimentos ocorreram quando o então prefeito Rafael Simões se preparava para disputar a eleição para deputado federal.
“Aí, sim, nós estávamos pagando promessas e conchavos políticos, atendendo pacientes de outras cidades (…) para cumprir compromisso de campanha”, afirmou o vereador durante discurso na tribuna da Câmara.
UPA atendeu mais de 10 mil pacientes de outras cidades entre 2021 e 2023
Segundo os relatórios de atendimentos na UPA ao longo dos anos de 2021, 2022 e 2023, período em que Sílvia Regina seguia à frente da pasta – ela deixou a pasta em dezembro de 2023.
De acordo com os dados, ao longo do período, de um total de 250,2 mil atendimentos realizados na UPA, cerca de 240 mil foram direcionados a moradores de Pouso Alegre, mas 10.206 se direcionaram a moradores de outras 93 cidades. A maior parte desses atendimentos, no entanto, se concentra em 20 municípios, que estão num raio de até 80 quilômetros de Pouso Alegre.
Dos 10,2 mil moradores de outras cidades atendidos na UPA de Pouso Alegre, 8.551 são desses municípios. Além disso, nesse mesmo conjunto de municípios, Rafael Simões foi o deputado mais votado em 17 deles e o segundo mais votado em outros três. Na soma de votos nessas localidades, o político conquistou 53.643 dos 144.924 votos que obteve nas eleições de 2022.
Influência no Cisamesp
O vereador Dr. Edson também sugeriu que exames e consultas realizados no Cisamesp, consórcio intermunicipal de saúde que atende Pouso Alegre, também estariam sofrendo atrasos por influência política.
Simões chegou a ser presidente do consórcio antes de se eleger deputado federal. A suposta influência do político teria sido um dos fatores a levar o governo Dimas a se juntar ao CISLAGOS, um outro consórcio intermunicipal de saúde, que engloba municípios da região do lago de Furnas.
“Essas influências estavam fazendo com que exames e consultas do município de Pouso Alegre acabassem por atrasar um pouco mais [no Cisamesp]. O que levou o prefeito a se consorciar com outro consórcio, no caso o Cislagos” afirmou o parlamentar na tribuna.
O vereador ainda fez uma crítica velada aos vereadores ligados a Simões que votaram contra e criticaram o projeto de lei que permitiu a adesão do município ao CISLAGOS. “A revolta de alguns é exatamente isso: é exatamente o fato da prefeitura de Pouso Alegre não ficar refém daqueles que usam a política, usam a saúde, usam a dor, o sofrimento das pessoas, das famílias para criar dificuldades para o gestor”.
Em nota, o consórcio negou que possa haver qualquer influência política nos agendamentos de consultas.
O CISAMESP (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Sapucaí) é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos e apolítica. Graças à esta prática conseguimos oferecer um serviço sério,justo e competente a todos. É importante destacar que não há qualquer interferência nos agendamentos de consultas e procedimentos, dos nossos municípios consorciados.
A RESPONSABILIDADE pela marcação é EXCLUSIVA das Secretarias Municipais de Saúde de cada município e sua prestação de serviços acontece conforme as cotas de atendimentos disponibilizadas dentro da proporção de cada convênio .O CISAMESP realiza os atendimentos conforme os critérios de agendamentos e marcação que é estabelecido por cada Secretaria de Saúde dos municípios integrantes do CISAMESP. A nossa única preocupação e dedicação é para servir da melhor maneira possível aos nossos pacientes consorciados com respeito e qualidade a todos.